2.8.17

Memories


Passado é passado. Ponto final. Deve ficar ali, quietinho como se nunca houvesse existido. E se alguma foto ousar aparecer, alguma marcação indevida ainda existir, ou até mesmo aqueles velhos amigos que costumavam fazer parte do contexto todo comentar algo, vai doer, claro que vai. 

Digo isso, porque não existe cabimento na razão para entender que um dia, aquele ali, que diz que te ama, manda flores e daria a vida por você, um dia foi de outra pessoa. E sim, dizia que a amava, a mandava flores, e daria a vida por ela também. Um dia, claro... Mas existiu. 

O mesmo acontece a gente que, ora ou outra, acaba fazendo um comentário já feito. Talvez não com a mesma intensidade, vontade e amor, mas já foi feito. 

Portanto, pode dizer que é radical demais, ou desapego demais. Acabou um relacionamento, seja lá de amores, amizades ou afins, acabou tudo. Chega de músicas que fazem lembrar, chega de roupas favoritas, filmes assistidos sempre, e até comidas, quem sabe. 


É um novo recomeço, uma nova chance que a vida está te dando pra ser feliz e você jura mesmo que vai misturar tudo o que, talvez até influenciou, o outro relacionamento chegar ao fim com essa novidade toda?! Melhor seria que não. 

Ao invés disso, corte totalmente contato, nada de da oi pra ex, nada nem se quer chegar perto, extrapole na criatividade, visite novos lugares, crie novos sabores, escolha novas roupas e filmes favoritos, use o que você sempre quis e não usava por medo do que o outro iria pensar, e se jogue (MESMO!) no amor

Shine


Essa música que toca meu coração e meus sonhos, Shine da Rosi Golan, me traz coisas tão boas. Não dá pra explicar exatamente o que é, mas a sensação é ótima. É como se eu lembrasse de uma vida que eu ainda não vivi.

Consigo imaginar perfeitamente uma vida inteira nesses 2:52. Em uma lembrança, lá estou eu andando na praia, chutando as ondas do mar, dançando com o meu imaginário ao pôr do sol. Lindo, lindo pôr do sol!! De repente aparece o maridão, outro lindo de viver! Com uma camisa branca, de botões entreabertos, meia manga, aquela bermuda delicadamente desleixada, descalço.

Ele vem, me pega no colo, me roda, me beija, nós corremos juntos na areia da praia como dois bobos, eu tropeço, caio, ele cai em cima de mim e me beija novamente.

Na outra, me imagino dirigindo um carro bem bacana, com teto solar, branco e mais algumas amigas no carro. Nessa, a música não fica só no meu inconsciente não, ela está tocando no volume máximo do rádio e todas do carro estão cantando bem alto "shineee shineeee". Eu coloco a cabeça pra fora, e sinto o vento batendo no rosto, o cabelo voando descontroladamente...

Ás vezes dá medo de que esses pensamentos fiquem presos apenas nas lembranças... Aquelas que eu ainda não vivi.

Máquina de pensar


Minha cabeça, ás vezes, parece uma máquina de pensamentos constantes. Não paro de pensar um minuto. Logo no comecinho do dia, automaticamente meu cérebro se programa com tudo que vai acontecer no dia: vou á escola, depois pro curso, não posso esquecer de ligar pra fulano, tem que lembrar de falar tal coisa pra ciclano, não passar batom pra beijar o namorado, ufa! Cansa só de pensar tudo de novo.

Essa loucura que é pensar o tempo todo, dizem que vem das mulheres. Somos programadas pra isso.

Pra pensar, calcular, lembrar de tudo... Acontece que isso cansa muito! E ás vezes dá vontade de largar essa vida de mulher pensadora e abstrair tudo da mente, pensar na cor branca ou em nada, nadica de nada. Não se preocupar mais com datas, prazos, pessoas, compromissos, ... nada.

Quando será que esse dia de férias chega ein?

3.6.17

Entorpecida por ele



Você planeja terminar um relacionamento. Chegou à conclusão que não quer mais ter a seu lado uma pessoa distante, que não leva nada à sério, que vive contando piadinhas preconceituosas e que não parece estar muito apaixonado. Por que levar a história adiante? Melhor terminar tudo hoje mesmo. Marca um encontro. Ele chega no horário, você também. Começam a conversar. Você engata o assunto. Para sua surpresa, ele ficou triste. Não quer se separar de você. E para provar, segura seu rosto com as duas mãos e tasca-lhe um beijo. Danou-se.

Onde foram parar as teorias, os diálogos que você planejou a decisão que parecia irrevogável? Tomaram Doril. Você agora está sob os efeitos do cheiro dele, está rendida ao gosto dele, está ligada a ele pela derme e epiderme. A gravação do seu celular informa: seus neurônios estão fora da área de cobertura ou desligados.

Isso nunca aconteceu com você? Reluto entre dar-lhe os parabéns ou os pêsames. Por um lado, é ótimo ter controle absoluto de todas as suas ações e reações, ter força suficiente para resistir ao próprio desejo. Por outro lado, como é bom dar folga ao nosso raciocínio e deixar-se seduzir, sem ficar calculando perdas e danos, apenas dando-se ao luxo de viver o seu dia de pigmaleão.

A carne é fraca, mas você tem que ser forte, é o que recomendam todos. Tente, ao menos de vez em quando, ser não ceder às tentações. Se conseguir, bravo: terá as rédeas de seu destino na mão. Mas se não der certo, console-se. Criaturas que se derretem-se, entregam-se, consomem-se, não sabem negar-se costumam trazer um sorriso enigmático nos lábios e alguma recompensa há de ter.

10.3.17

Eu nasci num mundo de meninos


Eu não entendia porque não podia jogar bola com meus amigos na rua, porque implicavam com meu jeito de sentar, porque eu só ganhava presentes cor de rosa e não azul,porque so ganhava bonecas e não carrinhos, porque eu tinha que dormir em um quarto separado dos meus primos e irmão nas viagens de família, porque eu fazia ballet na escola enquanto os meninos faziam judô, porque achavam estranho que eu tivesse o estojo do pokémon e a mala do homem arranha. Eu não via a diferença que todos me enfiavam goela abaixo.

Eu cresci num mundo de garotos.

Eu não gostava de pentear meu cabelo, eu odiei ter que começar a usar sutiã, eu sentia vergonha das mudanças que começavam a aparecer no meu corpo e tudo que eu deveria fazer para escondê-las ou disfarça-las com roupas largas. Eu sofri quando meus colegas me achavam que eu era lésbica porque eu não agia como as outras meninas da minha idade. Eu não gostava de usar anéis, pulseiras, colheres, presilhas, saias ou vestidos. Eu tive que aprender a esconder quem eu era pra ser o que uma moça tem que ser.

Eu aprendi a amar num mundo de rapazes.

Eu precisava respeitar meus namorados, mesmo que eles não me respeitassem. Eu deveria não tentar chamar tanta atenção para que eles não tivessem que me disputar com ninguém. Meu corpo era um prêmio que eles ganhavam enquanto eu me desdobrava para encantá-los sem parecer vulgar demais. Eu não podia ser interessante para outros garotos, portanto deveria evitar todo e qualquer contato com o sexo oposto enquanto estivesse em um relacionamento. Eu era louca e doente quando ficava em casa sozinha nas noites de sexta temendo o que as vagabundas sem classe estariam fazendo com meus pobres namorados inocentes nas baladas. Eu fui ensinada a enxergar outras iguais a mim como ameaças e eternas competidoras pelo olhar masculino. Eu deveria cuidar, zelar e amar sem sufocar. Eu precisava aprender a respeitar espaços sem nem ao menos ter a chance de ter o meu. Eles foram os vírus que adoeciam minha mente. Eles eram as únicas curas possíveis.

Eu vivo num mundo de homens.

Eu já não sei mais do que eu realmente gosto e do que fui condicionada a gostar. Eu preciso ter medo ao sair de casa de noite e escolher minha roupa cuidadosamente para diminuir as chances de um homem achar que tem direito de violar o meu corpo, eu tenho que ouvir o meu pai me falando direto que meu marido terá que ser rico já que eu não sei cuidar da casa e nem fazer nada direito. Eu tento achar o meio termo entre quem eu sempre fui e quem eu tive que aprender a ser. Eu ainda não sento “que nem moça” direto, falo um monte de palavrões, bebo com meus amigos no bar, gosto de futebol, ando mais com homens do que com mulheres. Eu aprendi a gostar de maquiagem, leio romances água com açúcar, gosto de anéis, pulseiras, colares, presilhas e aprendi a gostar de pentear o cabelo, e fiz as pazes com o rosa. Eu tive que entender sozinha que gostar do que é considerado “coisa de menino” não tinha a ver com a minha sexualidade, que ser mulher é muito mais sobre fazer minhas próprias escolhas do que pintar as unhas de vermelho e aprender a cozinhar, coisa que hoje eu amo.

Eu quero, um dia, poder criar uma mulher.

Quero ensiná-la que tá tudo bem comer chocolate, é melhor um corpo feliz do que ser infeliz para seguir um padrão. Quero que ela aprenda desde bem cedo que ela pode gostar do que faz com que ela sorria muito, a única a quem ela precisa agradar é ela mesma. Vou mostrar que o corpo dela merece respeito estando de calça ou minissaia e ninguém tem direito de tirar nada dela sem que ela permita. Eu vou ensina-la a fazer um escândalo toda vez que se sentir lesada por ser quem ela ama ser, que ela deve amar quem o coração dela escolher.Vou ouvi-la porque a voz dela importa.Vou aprecia-la para que ela saiba que tem valor e que esse valor se dá pelo fato dela ser um ser humano.  

Eu quero, um dia, criar uma mulher num mundo de seres humanos.