21.3.12

As portas do coração


Acho que ninguém passa a vida como uma folha em branco, sem escritos, sem rabiscos. Tudo vai sendo escrito na alma, os momentos vão sendo registrados, misturando o que foi com o que deixou de ser, as grandes expectativas com as grandes decepções. 

Cada página virada traz as marcas das que passaram e com o tempo vamos aprendendo a prudência nas relações. 

Quando somos jovens é diferente, pois a esperança é tão eterna quanto o amor que toma conta da gente. 

Mas os anos nos trazem a vivência, a desconfiança e a memória das coisas que nos fizeram mal. 

Se na juventude nos jogamos de cara a cada nova oportunidade, mais tarde aprendemos a caminhar lentamente, olhar de longe, tentar reconhecer os riscos e buscar garantias. 

Essas mesmas garantias que só são assinadas depois, bem depois, caso existam. A vida não nos abandona e as  oportunidades vão surgindo. 

Mas, com elas as feridas que se reabrem, que revivem e fechamos os olhos a, talvez, belos instantes de felicidade plena e eterna. 

Não sabemos! Não podemos saber! As pessoas não são iguais, mas tão parecidas! 

Não queremos sonhar de novo e cair de novo, chorar de novo e parecer tolos aos olhos dos outros, preferimos fechar as portas do coração e olhar pela fresta, imaginar o que teria sido se tivéssemos, pelo menos, tentado.

Queremos sempre o amor, nunca a dor que dele resulta. 
Queremos o mel, a alegria e até a saudade que pode incomodar o coração, 
mas dor, dor não! 

Não sabemos, talvez, que seja esse o preço e que a alegria de amar um tempo vale mil vezes a dor cravada na alma. Amar alguém é elevar-se ao ponto nobre da vida. É tocar o céu e ter a terra aos seus pés. 

E se mais tarde os ventos contrários nos trazem de volta, valeu a viagem, valeram as lembranças que carregamos e que nos sustentam. 

E entre os escritos da vida, prevalecem, no fim, o néctar que soubemos tirar das, a poesia que tiramos dos amores, mesmo daqueles que tiveram fim.