(...) O mistério estava nos olhos. Estes eram
opacos, não sempre nem tanto que não fossem
também lúcidos e agudos, e neste último estado
eram igualmente compridos; tão compridos e tão
agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam
o coração e tornavam cá fora, prontos para nova
entrada e outro revolvimento. Não te minto dizendo
que as duas sentiram tal ou qual fascinação. (Esaú e Jacó. 1904)
Conexão de alma. Uma entre dez milhões, uma vez a cada dez anos: surge. Descobri a beleza que é alguém te fazer feliz, sem nem estar por perto, sem nem suspeitar disso. E tem gente que cisma em dizer que todo amor é pra toda vida. Amei por alguns dias, meses, anos, amo ainda, sem querer. A vida te tira algumas pessoas, só não te tira o direito de continuar a ama-las. E querer ver no sorriso delas, a pura felicidade.
Não sei ao certo quando foi. Naquele erro desatencioso, num escorrego de um sumiço, na distância, na saudade. Não sei ao certo quando chegou, se alojou sorrindo mansinho, fez bagunça e partiu. Não tenho certeza se foram nos dedilhos da conversa gostosa de escrever ou se foram aquelas que eu prometi passar a vida lendo. Talvez foi na promessa sua de continuar a escrever sobre meu sorriso. Prometemos mais que sabemos cumprir. Acho que foi bem aí que se atropelou no meio do caminho. Entre algumas curvas, perdeu-se, sem mapa. Lembra? Você sempre me falou. -Ofereço-me pra te guiar na escuridão, bastava eu segurar a sua mão e sussurrar no seu ouvido: vou sim, eu vou. E você me largou sozinha na escuridão.
Abri meus registros, voltei um pouco no tempo. Deu saudade dos seus textos. Logo passa, prometo pra mim mesma. Adoro falar em voz alta aquilo que eu mereço escutar de outrem, só pra não correr o risco de deixar pra depois. Teu riso é leve, tua voz fixa bem. Ainda lembro-me do gosto do vinho barato e do teor que sobe à cabeça, tão inebriante quanto nossos diálogos sobre o futuro. Eram nossos momentos íntimos, os únicos que suportavam calados nossa presença, enquanto a frieza perdia espaço no recinto, pro nosso calor. Não sei se foi nesse dia, não sei se foi nessa hora. Mas de alguma forma que eu não sei qual foi.. Eternizou.
Nunca entendi por que algumas lembranças vêm pra ficar. Passei algumas fotos, li alguns textos. Acho que errei na tua espera. Acho que erraste em me esperar. Erramos na resposta do tempo, nosso amigo traiçoeiro, ditar quando a hora certa chegar. Que nunca veio. Pouco a pouco deixei o silêncio invadir, esqueci do nosso desenho favorito, deixei de te ver às sextas feiras, parei de ler os livros que você me deu. Alternei do intelecto pra intuição, cabeça pro coração. Meu coração, por nele falar, sobrevive à base de mistérios. “Tá” tudo bem com ele, só não se desespere não, porque ele deve estar bem. Mas depois de quase um mês, larguei a conversa, lembrei da poesia.
É que vez ou outra bate saudade
fecho os olhos pra mensagem
que um dia quis te falar.
leva meu beijo, meu abraço,
as palavras registradas, que eu deixei aqui ficar.
Se um dia quiser lembrar, avisa pro coração
juro que dispensa qualquer preocupação, abro espaço pra você voltar.