14.2.15

Eu não preciso de você


Eu não preciso de você. Não preciso. Não preciso para nada. Nem para acordar, para levantar, para trabalhar e muito menos para sobreviver. A minha vida não depende de você para seguir o seu rumo.

Eu não preciso. Mas quero precisar. Aliás, eu não preciso de você nem para pagar as minhas contas, mas preciso de você me acompanhando na fila do banco. Eu não preciso de você para trabalhar, mas preciso receber a sua ligação no decorrer do meu dia. Não preciso de você nem para fazer um café pela manhã, mas tomá-lo ao seu lado é o melhor da vida.

A minha cara de sono tem mais beleza se você puder olhá-la – e lembre-se – não preciso de você para dormir e nem para acordar. Não preciso de você para ser feliz. Mas a minha felicidade com você ao meu lado se completa.

Não preciso de você para esboçar um sorriso, ou dizer uma piada. Mas o meu sorriso com você se ilumina e a piada fica muito mais engraçada. As minhas músicas preferidas já existiam antes de você, nunca precisei de você para ouvi-las, mas depois da sua presença a melodia ficou mais bela e os solos da guitarra ficaram mais perfeitos.

Eu sei que eu não preciso. Também sei que o fato de eu não precisar e te querer sempre por perto é a demonstração do quanto você é essencial – não por uma questão de sobrevivência - mas por uma questão de amor.

Precisar de você eu não preciso. Mas querer precisar de você é a minha escolha.

Meio fio


Equilibrando para não cair. Juntando os pedacinhos. Com calma e serenidade. Mantendo o equilíbrio porque nesse mundo de gente "coerente" e "cheia de si", a necessidade de parecer uma lady - quando tudo está desmoronando- é essencial.

Mantenha a calma, não desça do salto e seja dissimulada ao ponto de não mostrar a ninguém suas fraquezas de mulher autossuficiente e independente. Ora bolas! Você já passou dos vinte precisa demonstrar o mínimo de maturidade em diversas situações. Dê exemplos.

Que se dane.

Eu só quero o meu cantinho no lado direito da cama. E quero ouvir as minhas músicas em um loop eterno até adormecer e esquecer que o dia foi cheio demais para sonhar. Eu queria um lugar nesse mundo em que eu não ouvisse a frase de “você se expõe demais”. Quem diz que eu me exponho demais nem imagina que eu tenho o meu lado predileto no sofá e desligo todos os telefones. Tento me esconder quando esse mundo resolve triturar o meu coração.

Eu quero alguém para dizer “que tudo bem você ser assim engraçada num dia e mal-humorada no outro”. E “que tudo bem que você não teve tempo de ser a mulher mais admirável do mundo”.


E que tudo bem, apenas.

Alma


Chuva, café e um clima frio no dia 11 de fevereiro. O pensamento vai longe. Conto os pingos que caem e se amontoam na janela do quarto. Nenhum desses pingos é igual, penso eu com os meus botões. Ser igual para que mesmo?

As grades da janela transmitem a estranha sensação de aprisionamento. Mas nem as grades, nem a sensação estranha e nem a tarde chuvosa e fria conseguem conter os pensamentos que, livres por natureza, correm de encontro ao que me faz bem.

Os dias têm sido intermináveis e rotineiros. Os afazeres e os compromissos me consomem. Os problemas diários também. Não tem para onde correr. Tem que ficar e resolver. Mas ai de mim ou de nós, meros mortais, se não existissem as lembranças e a capacidade de nos transportar aos momentos que nos preenchem e que, em dias chuvosos e frios como os de hoje, nos fazem carinhos na alma.

A sensação de bem estar vem com um dia de sol. Uma simples espera por um café na padaria. Mas não é qualquer café. Tem o café, os carros passando, e a moça que passa com o filho logo cedo, e aquele senhor que não tem dias cheios, mas que, mesmo assim, passa apressadamente para algo ou para alguém. Peço um suco, e fico admirando as pessoas que vem e vão. E de repente, meu café da manhã se transforma em risos e sorrisos. E o vazio preenchido.

Eu gosto de tomar o tal café na padaria. E gosto de andar pela rua como se ela fosse somente nossa. Gosto de almoçar no mesmo lugar e dizer que eu não sei cozinhar aquela comida. Gosto de ouvir você falando e fazendo planos. E eu me dou conta de que eu quero ouvir você falando e fazendo planos, em todos os almoços em que eu puder te ver comendo e falando ao telefone ao mesmo tempo.

Eu quero o café. O almoço. E a tarde de sol na praia. Eu quero mãos dadas. Eu quero te olhar e pensar que você é uma criança grande e descobrir que, apesar de tanta escuridão e confusão que teimam em nublar os meus dias, você ainda é aquele dia de sol que me acompanha e aquece a alma.

1.2.15

Nem Esaú, nem o Jacó


(...) O mistério estava nos olhos. Estes eram 
opacos, não sempre nem tanto que não fossem 
também lúcidos e agudos, e neste último estado 
eram igualmente compridos; tão compridos e tão 
agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam 
o coração e tornavam cá fora, prontos para nova 
entrada e outro revolvimento. Não te minto dizendo 
que as duas sentiram tal ou qual fascinação. (Esaú e Jacó. 1904)

Conexão de alma. Uma entre dez milhões, uma vez a cada dez anos: surge. Descobri a beleza que é alguém te fazer feliz, sem nem estar por perto, sem nem suspeitar disso. E tem gente que cisma em dizer que todo amor é pra toda vida. Amei por alguns dias, meses, anos, amo ainda, sem querer. A vida te tira algumas pessoas, só não te tira o direito de continuar a ama-las. E querer ver no sorriso delas, a pura felicidade. 

Não sei ao certo quando foi. Naquele erro desatencioso, num escorrego de um sumiço, na distância, na saudade. Não sei ao certo quando chegou, se alojou sorrindo mansinho, fez bagunça e partiu. Não tenho certeza se foram nos dedilhos da conversa gostosa de escrever ou se foram aquelas que eu prometi passar a vida lendo. Talvez foi na promessa sua de continuar a escrever sobre meu sorriso. Prometemos mais que sabemos cumprir. Acho que foi bem aí que se atropelou no meio do caminho. Entre algumas curvas, perdeu-se, sem mapa. Lembra? Você sempre me falou. -Ofereço-me pra te guiar na escuridão, bastava eu segurar a sua mão e sussurrar no seu ouvido: vou sim,  eu vou. E você me largou sozinha na escuridão.

Abri meus registros, voltei um pouco no tempo. Deu saudade dos seus textos. Logo passa, prometo pra mim mesma. Adoro falar em voz alta aquilo que eu mereço escutar de outrem, só pra não correr o risco de deixar pra depois. Teu riso é leve, tua voz fixa bem. Ainda lembro-me do gosto do vinho barato e do teor que sobe à cabeça, tão inebriante quanto nossos diálogos sobre o futuro. Eram nossos momentos íntimos, os únicos que suportavam calados nossa presença, enquanto a frieza perdia espaço no recinto, pro nosso calor. Não sei se foi nesse dia, não sei se foi nessa hora. Mas de alguma forma que eu não sei qual foi.. Eternizou.

Nunca entendi por que algumas lembranças vêm pra ficar. Passei algumas fotos, li alguns textos. Acho que errei na tua espera. Acho que erraste em me esperar. Erramos na resposta do tempo, nosso amigo traiçoeiro, ditar quando a hora certa chegar. Que nunca veio. Pouco a pouco deixei o silêncio invadir, esqueci do nosso desenho favorito, deixei de te ver às sextas feiras, parei de ler os livros que você me deu. Alternei do intelecto pra intuição, cabeça pro coração. Meu coração, por nele falar, sobrevive à base de mistérios. “Tá” tudo bem com ele, só não se desespere não, porque ele deve estar bem. Mas depois de quase um mês, larguei a conversa, lembrei da poesia.

 É que vez ou outra bate saudade
 fecho os olhos pra mensagem
 que um dia quis te falar.
 vai pensamento, voa
 leva meu beijo, meu abraço,
 meu poema, nossos traços
 as palavras registradas, que eu deixei aqui ficar.
 Se um dia quiser lembrar, avisa pro coração
 juro que dispensa qualquer preocupação, abro espaço pra você voltar.