5.10.16

(Des)escrevo


Eu sei amar.
E também me lembro de quem me ensinou a amar.
Mas ele está longe agora e dormindo, enquanto isso, (des)escrevo. 

É que meu lado escritora sobrevive muito mais da arte de observar do que do ato em si. Procuro na leitura um universo paralelo que não torne a rotina tão sufocante. Nas horas vagas, crio o meu universo. Vem da clareza de quem se dedica a uma análise minuciosa do comportamento alheio. O modo é automático, os olhos filmam e a mente escreve, num computador que fica em cima de uma mesinha de madeira, numa salinha escura e gélida, em algum lugar da minha mente, tem página, parágrafo, vírgulas... Os pontos finais eu vou ajeitando conforme tudo vai acontecendo... Às vezes um novo capítulo... Quando não tem mais volta, um novo livro... 

Pouco a pouco, vou editando os roteiros, analisando o personagem principal. Volta e meia troco por algum coadjuvante. Às vezes saio de cena, desapareço. Entro em outro cenário. O sujeito fica oculto, a oração indireta, a preposição dá espaço a tudo que eu queria te dizer, mas preferi guardar no papel. E assim permanecemos. Um silêncio tão incerto quando o próximo capitulo. Coloco travessão diante uma longa fala, às vezes algumas pausas, mas sempre em continuação. 

Você não imagina, mas já te dei um nome e um sobrenome fictício, uma profissão e umas 15 viagens pelo mundo, só enquanto tomávamos um café no fim da tarde. Você nem percebeu, mas te dei o que você não tem; nos defeitos, os que fazem de você o personagem principal. Nas manias, que geram saudade. Nas falas, que transformam um dia ruim em algo infinitamente melhor. Nas atitudes. Ah, as atitudes.. 

Com aquele mesma lapiseira que eu uso para sublinhar os trechos mais interessantes nos meus livros, peguei um papel e caprichei num sorriso lindo, incrementei com o brilho no olhar e te dei um bom coração, poucas palavras... Um punhado de sonhos. Coloquei-me à disposição para ajudá-los a tornarem reais. E te dei a mão.

Gosto de quem sonha, e sussurra; velado, pra si, pra quem quiser ouvir. Eu escutei. 

Te dei a distância, te dei a liberdade. Aquela, que une o mais livre dos seres. Trouxe um vilão, logo depois apareceram dois. Por que de toda história bonita se espera alguma coisa. E supera. As vezes eu erro alguma palavra, apago e recomeço. Recomeçar é um dom, mas infelizmente não existe borracha na vida real. Você tem inúmeras folhas, para reescrever quando e como quiser... Mas nunca terá uma borracha em mãos. 

Mas ei, não se preocupe. Eu tirei seu medo... 

Você não precisa dele enquanto eu estiver escrevendo essa história. 

Só confie em mim. 
E me sorri de volta.  
Já mencionei que caprichei no seu sorriso?

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