O que eu senti aquela noite não foi tristeza. Foi fácil chamar de TPM, afinal, a ebulição dos meus hormônios diante do novo talvez tenha contribuído. Aquela hora em que vesti o pijama e parei por dois segundos pra refletir no espaço e tempo que talvez já fosse segunda-feira foi o estouro da bolha de uma felicidade impossível. Eu olhei para você, eu vi a minha mala, eu fechei os olhos e não esperava por lágrimas por mais que um soco sem formato ou cor tenha me atingido tão detalhadamente no estômago que não parei mais. Não teve soluços ou desabafos, declarações. Apenas um não saber intruso, a invasão do desconhecido assaltando a leveza e fazendo pesar a mão no futuro. As lágrimas rolando maçãs do rosto abaixo, inesperadas, sem pausa, nada tímidas. Até hoje não compreendo qual o botão que deu defeito e paramos com os carinhos sutis para pressionar com força e desespero um botão que fizesse tudo continuar a funcionar. O que eu não sabia é que se a gente deixa no automático certos sentimentos operam melhor, com cautela alguns acertos são possíveis.
Agora todos os dias eu acordo, tomo gelado meu leite com Toddy, como pão com requeijão e engulo o remédio sem qualquer resquício de culpa ou medo. Podia existir aqui uma vergonha em falar nesse assunto, certo receio. Porém, se é pelo bem geral e para manter minhas emoções em suas coleiras feitas de algodão em tons pasteis, que eu ingira esse comprimidinho branco que consegue colocar em compasso mente, coração e a ordem dos meus dias com dignidade. O caos da impulsividade, aquele precipício cheio de borboletas coloridas chamando para o além, uma paisagem de vida ativa logo lá embaixo, as nuvens todas macias lá em cima: é bacana se sentir flutuando vez que outra, contudo, que carma descer pra terra mais tarde. Quanto susto tem nesses momentos em que a gente se obriga a cair na real; é de voltar com os joelhos esfolados, cortes hemorrágicos pelo corpo todo, a dor latente de mergulhar, descer rampas, subir nas árvores do bem-querer alheio sem calcular o tamanho das quedas. Eu então me medito pra que seja possível colocar as emoções no lugar , em fila indiana, por tamanho e grau de importância. Longe de ser algo simples, mas talvez a única maneira de equilibrar a gangorra sem ter medo de ficar por baixo.
É feito peito de criança mesmo com chiado, é como aqueles pequeninos que não querem nunca saber da hora de dormir ou quando entram no banho jamais querem sair: eu sinto o cansaço do dia colidir com a minha disposição por aventuras, a excitação do encontro misturada à ansiedade das expectativas, as mãos tremendo, a adrenalina amassando os documentos, respira fundo, calma, respira, Vanessa, isso. A intensidade disso que a gente ainda nem sabe, a fome por respostas claras, o atropelamento das etapas decisivas. O obscuro da sua caverna, a frustração pensante dos silêncios, uma saudade órfã da sua voz. A pena dos pedintes em frente à igreja Batista, as angústias do barraco pelo telefone na mesa ao lado no self service, o lado ruim dos outros feito fratura exposta cheia de contaminação. Os excessos da noite passada, as veias entupidas de carboidratos nada bem vindos, o telefone que não vibra nunca atrás de notícias. A pequena morte do orgasmo, o susto da despedida atrapalhada, a dor e a delícia de se estar em aeroportos.
Eu sinto muito, mas eu sinto tudo, tudo. E não é nada fácil, muito menos simples. É uma luta diária pra não infartar com uma simples conversa, é o choro de duas horas por uma resposta atravessada, é a felicidade de três noites por algo dito anteontem. Uma fé imensa, uma ingenuidade talvez frívola, aquela mesma sensibilidade que você tanto admira vestida de vilã para o Halloween. De vez em quando. Umas pouquíssimas vezes por ano. Apenas na presença de quem é nobre o suficiente pra não se assustar com trovejadas e saiba relevar tropeços sem deixar escapar a raridade do passarinho azul em mãos.
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