27.1.15

Tão perdida quanto essas palavras


E então eu me dei conta que tudo que eu desejei, tinha em mãos. Cuidado com o que você pede... Você pode um dia conquistar. Mas virei pro lado e perguntei pro primeiro que passou na minha frente. “E agora, eu faço o quê com tudo isso?”

Não obtive resposta.
Só com o tempo ela veio.

Acho que eu ando muito cansada. Perdida na dúvida entre saber se amanhã começa um novo dia ou um novo dia que começa. Ando desejando tanto que tudo passe depressa por algo que eu não sei o quê. Tenho aprendido mais. Tenho escutado mais. Sim, estou feliz. Sim, estou realizada. Sim, aquele sorriso continua aqui. Às vezes dá tudo errado, às vezes tudo desaba de uma vez. Mas também há aquelas vezes que meu coração dá pulos e palpitações, ai eu abro uma cerveja pra comemorar, mesmo que seja algo que eu não sei se é vitória minha ou do universo que trouxe isso pra mim. 

Tropeços, algumas quedas, uma porção delas no mesmo lugar. Mas é legal essa coisa de ir aprendendo com calma. Você se perdoa e deixa tudo fluir. Exigindo a constante humildade para reconhecer que não sou tão especial quanto penso. E que nem sempre um grande passo vai me tirar de um pequeno lugar. Tenho rezado bastante e agradecido por todas essas maravilhas que tem acontecido na minha vida. Tenho pedido perdão também pela ingratidão de não estar completamente satisfeita. Às vezes me pego pedindo mais que agradecendo. E algumas delas, eu nem mesma sei o quê. 

“Vai vida, surpreenda-me”.

Sabe aquela máxima de que quando você tem tudo que deseja, ainda vai faltar alguma coisa que você não sabe o quê? Eu acho que isso tem muito a ver com ingratidão.  Mas eu tenho aprendido bastante. Estabelecer contratos com o tempo, saber a devida função de cada pessoa ou acontecimento na minha vida me faz imaginar tudo como um filme em que eu sou a única telespectadora. 

Sinto saudades de quem um dia já fui. É verdade. E me dei conta que às vezes nem me reconheço mais. Eu já admirei bastante aquela moça que um dia ocupou aqui esse espaço e assinou com meu mesmo nome. Mas hoje em dia não sei por onde ela anda. Olha, cuidado com a vontade excessiva de autoconhecimento. Um dia você pode se conhecer tanto.. Que vai se desconhecer. Foi assim que a vida me colocou numa diferente perspectiva. O legal disso é a capacidade de entender que num sorteio de inúmeras atitudes, a gente nem fez assim tanta diferença. Nossas escolhas de agora serão substituídas por aquelas de amanhã bem cedo. E se eu não levantar quando chama o despertador, ninguém mais vai me avisar que o dia está lindo lá fora.

Amanhã é tudo novamente, acordar e tomar leite gelado com toddy e comer pão com requeijão. Preparar o café da manhã, o lanche da manhã e sair pra vida. Distrair a mente dos meus precipícios tem sido um dever de casa fora dela. Sintonizo aquela música que faz sacudir minha alma e fico observando as pessoas na rua. Já contei por aqui que adoro escrever uma historia pra elas? Outro dia fiz uma bem bonitinha. Mas o ponto da descida do ônibus chegou e não deu tempo de fazer um final feliz.  Talvez isso tenha acontecido com bastante frequência. Eu inicio uma bonita história pro meu dia, mas nunca consigo um final legal. Daqueles que as pessoas aplaudem de pé. Talvez a peça do quebra-cabeças veio defeituosa. Talvez eu tenha deixado ela se perder das demais. Ou vai ver ela está por aqui por perto de mim. E eu não consigo enxergar o quão perto ela esteja. E eu nunca perco essa paixão por metáforas.

Esses dias antes de dormir me peguei lembrando que faz um ano que eu tomei a decisão de estar sozinha na minha companhia. Nem tô falando de estar solteira ou em um relacionamento. Aliás, é um relacionamento com a minha própria voz em casa, com uma cama de solteiro inteira pra mim, com uma louça que eu mesma sujo da macarronada que eu aprendi a fazer. Lembra que eu disse pra tomar cuidado com o que você deseja? Isso entra na lista. Depois de uma grande decepção você deseja arduamente estar em paz com seu silêncio. Mas ai a ferida se curou, o tempo passou e eu senti falta de algo que aconteceu e eu nem reconheço mais. Lembrei das pequenas escolhas que fazemos, talvez até inconsciente, que falam bastante dos próximos passos que daremos. E que não dá pra ficar à espera que coisas incríveis aconteçam, sem que você mesma aconteça. Não dá pra pegar uma caneta mágica e escrever num papel colorido e esperar que as palavras pulem do papel pra minha realidade lá fora. 

Então eu agradeci novamente. O que eu faço todos os dias, frutos das minhas batalhas, conseqüência das minhas conquistas, principais motivos da minha realização interior. Agradeci também minha própria companhia, os filmes no sábado à noite e a única taça de vinho que eu coloco em cima da mesa. O bom de um longo tempo sozinha é que você começa a dar valor a companhia de quem seja. E guarda um lugar especial pra quem deseja a sua. 

Eu sei que aconteceu e eu nem reconheço mais. Mas eu sinto uma saudade absurda de tudo isso que me espera no futuro. Confesso que fecho os olhos e peço, lá no fundo, pra não demorar. E ao fim desse texto, conclui que é isso que não me permite terminar minhas histórias. Nem falar sobre como eu termino meus dias.

Existe um final não escrito, pronto pra ser redigido. Quero dizer que hoje eu desejo que ele comece a ser escrito. E eu nem quero tomar cuidado com isso, por que eu também desejo que ele comece agora.

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