Tive uma sorte danada de nascer nos primeiros meses do ano. No segundo, por diretamente dizer. E naturalmente, dezembro chega com as malas de lembranças e memórias não apenas do ano que pede passagem e recheados daquele sentimento de “o-que-eu-fiz-o/que-eu-queria-fazer” que fica meio arrastado até Janeiro e se posterga até a data que eu apago velinhas, se assim eu permitir. Acredito fielmente naqueles ciclos que se iniciam, que há toda uma energia em volta disso, mesmo que a cada dia seja também um novo ciclo, ciclos maiores como anuais e pessoais. Sustendo aquele vinculo emocional com tudo que já passou pela minha vida, que talvez até maléfico seja, quando não permito aquilo que deve ir, ir embora de vez. E abrir espaço para novas coisas chegarem. Vanessa Alessandra. A verdade é que fim de ano a sensibilidade se acomoda, o pensamento pega um foguete pra lua e só volta quando tudo está fixo na terra novamente: a cabeça, os pés, o coração. Infelizmente demora. Aproveito esse ócio de frente para o notbook e me recolho nos meus cômodos internos - o sofá da minha consciência, a sala de estar dos meus arrependimentos e a cozinha de novos planos e projetos – embarco em um punhado de sonhos que eu alimento aqui dentro e estabeleço num papel aquilo que deve ser feito, que deve ser evitado, que vou a todo custo lutar para fazer.
Só que existe um nó imenso no meio do caminho. São pequenos nós que a cada dia fortaleço-me para que sejam desfeitos, seja fisicamente ou emocionalmente. São pequenas barreiras invisíveis, mas ainda capazes de impedir a passagem no caminho dessas metas, sonhos e lutas. Estou perfeitamente certa de que tais nós existem pra cada um de nós, mas que cada um reage a eles de formas diferentes, sob situações e contextos também diferentes. Alguns com mais sorte, outros com menos.. Alguns com uma ajudinha externa, outros com natural dom de resiliência. Mas a forma como lidamos com eles fala muito sobre nós. E assim uso deles pra me conhecer mais e mais.. Apesar de desconfiar que nunca saberei ao certo quem realmente sou. Quem fui ontem, não sou mais.. Amanhã.. Vai saber?
2014 foi um ano incrível, como todos os anteriores foram. Desde pequena entendi o significado do yin yang, de todas essas filosofias que te ajudam a transformar um bocado das escolhas diretas e indiretas que fazemos na vida, em separar seus erros e aprendizados. Eles são intrínsecos, basta saber enxergar bem. Há sempre um bom no mau, um bem no mal.
Não me refiro a esse ano que se vai como um ano de milhões de maravilhas. As poucas conquistas são contadas nos dedos. Válido ressaltar o privilégio da qualidade à quantidade. Plantei as sementes do que irei colher no ano que chegará. Posso perfeitamente resumir 2014 a uma sequência de tropeços. Mas que sem eles, eu jamais seria a mulher que agora sou. Engraçado dizer, hoje sorri bobamente de tudo que aconteceu.. Agradecendo, só agradecendo. Vi-me sozinha, completamente sozinha e pela primeira vez não tive medo de vivenciar isso. Daqui pra frente será assim, na verdade sempre foi.. O afago da família e a proteção dos que me amam e evitam meu sofrimento a todo custo, enquanto puderem fazer.. Estiveram longe. Estão longe. Enviam-me amor a toda medida, oferecem apoio e palavras de carinho quando necessário. Mas ainda sim, sozinha. Sem dúvidas, meu primeiro desafio.
O segundo desafio foi uma batalha interna que eu travei contra mim mesma. Meu gênio difícil, minhas dúvidas, meus receios, meus medos. Confiança em si mesmo, sobretudo. Falhamos quando não sabemos da nossa capacidade de construir palácios, basta apenas confiar na capacidade de fazê-lo. E seguidamente, fazer! Não adianta esperar cair do céu o que se sabe que de lá apenas vem Chuva. Então o desafio começou aqui dentro, em dialogar com a dualidade presente nessa consciência. Não me sai muito bem, mas a cada dia essa relação interna torna-se menos complicada. Desse casamento vêm frutos, brinco dizer. E depois que você descobre os passos corretos da receita do bolo, o resultado tende a melhorar. E que então, você só precisa de tempo. Só tempo. Persisto na espera dele.
Um terceiro desafio e talvez último, mas não menos importante: O Mundo aqui fora. É preciso um pouco de olhar critico e sem dúvidas, mais resiliência, aliado a um punhado de maturidade pra entender a complexidade de tudo que está a nossa volta. As pessoas, as histórias, os cenários, os contextos.. Eu costumo dizer que sei lidar com o que há aqui dentro de mim, ou pelo menos posso tentar e tentar novamente quantas vezes puder. A partir do momento que conheço meus limites e minhas possibilidades, sei com o que lidar e como lidar. É de mim que falo, é de mim que conheço.. Lá fora tudo muda. São pessoas e pessoas diferentes, são diversidades e complexidades que quase sempre conflitantes, terás muita sorte em saber reagir bem a toda essa mistura de culturas, costumes, pensamentos e ações. E que quase nunca fechar-se a uma bolha fará da tua caminhada menos penosa. Quem evita errar, não erra. Mas também não vive. E que graça tem passar por esse mundo sem provar de gostos, de cores, de sabores, de culturas e conhecer as diferenças? É dessa maravilha que me alimento, da linha tênue entre o que sou e do conforto de ser quem sou e do resto do mundo, diferente de mim, mas que sem dúvidas faz-me aprender infinitamente mais.. E que sem todos esses aprendizados, meu ano não seria válido, viver não seria tão saboroso, errar não seria viciante, tropeçar não me instigaria a levantar, a conquista não seria prazerosa, marcante e não estaria entre minhas cinco melhores conquistas da vida, ou quantas eu optar por ser..
E que uma das maravilhas que 2014 me proporcionou é que através desses grandes três desafios, não teria um baita orgulho de olhar no espelho e saber que quem está lá do outro lado sorrindo pra mim mesma, sorri convicta de que as vitórias foram apenas consequências dos meus esforços e que os tropeços foram tão importantes quanto reconhecer essas vitórias. Construir a minha história nada mais é que entender que o tempo é o mediador de tudo. Há a necessidade de fazer as pazes com ele, fazer a minha parte através das minhas escolhas e aproveitar a paisagem. Um passo de cada vez, sem pressa.
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