14.7.15

Pela metade


A gente fica aqui esperando que alguém bata na porta, diga alô no outro lado da linha, esbarre nas nossas decepções, peça desculpas e prometa que não vai mais embora. A gente que é carente quer tudo pra ontem. Vamos pra casa com gosto de esperança e apostamos em cada novidade. Nossa natureza não se entende muito bem com incertezas. Somos inimigos das metades, repudiamos joguinhos e, se for para vivermos ao lado de alguém que pula de galho em galho, ficamos com um macaco, não com um cachorro. Estamos sempre com um olho aberto e o outro fechado, porque pode ser que o encontremos na esquina da padaria, na fila do supermercado, em um café no aeroporto, no carrinho de hot dog em frente à faculdade. A carente tem costume de enxergar interesse onde não tem. Temos a mania levar a intensidade no bolso e, desde a adolescência, nossa maior batalha é querer tê-la de maneira recíproca.

Às vezes eu acho que a vida está de sacanagem comigo, não é possível! É muito chato ter que ficar vivendo as coisas pela metade. Muitas vezes a vontade é de simplesmente não ter chance alguma, por que chegar tão longe e despencar lá de cima é doloroso demais. Eu ando vivendo de metades, já são incontáveis vezes que conheci pessoas pela metade. Entro na vida delas pela metade, roubo só metade do seu carisma. As pessoas estão se doando pela metade, contando histórias pela metade, se entregando à vida pela metade. Eu inclusive acho que peguei essa doença e ando saindo de casa pela metade, ao ponto de viver pra sair e matar a carência nem que seja em um bar ou em uma balada bebendo todas, pra esquecer um pouco aquela solidão, pois no meio da multidão sempre tem alguém que ira parar a noite e te da aquela atenção, fico com a cabeça lá nas nuvens, lembrando de um tempo onde eu chegava num bar ou balada e saia de lá com no mínimo cinco novos amigos, saudades dessa época.

Carência é sinônimo de precisar ser cuidado e antônimo de ausência de amor próprio. Uma sede pelo amor clichê e uma fome por um domingo longe da voz do Faustão. Podemos ficar dias sentadas no portal de casa esperando alguém chegar de charrete, bicicleta ou até mesmo vir de fusca só para ouvirmos chamando nosso nome com vontade, nos amando no meio do temporal, dando gargalhadas com os olhos e não soltando nossa mão nem para coçar o rosto. No fundo do baú das mágoas, cada novidade é uma visita que esperamos que venha pra passar a noite e, no dia seguinte, tenha Alzheimer do endereço de onde mora. Um sentimento que motiva um chimarrão com narguilé a se transformar numa amizade, um lance a dar certo, pegadas mais fortes a virarem namoro. Namore com uma carente. Nós não somos muito boas em contas, porém sabemos que a fórmula da felicidade é 1+1=2 e não 1+1=3.

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