Eu tive vontade de te colocar no colo e deixar minhas unhas passearem pelos teus cabelos enquanto perguntava sobre como foi teu dia, tua semana. Eu tive vontade de te chamar pra ver o pôr do sol, sentar na areia e deixar você escolher o país de destino das próximas férias. Olha, eu tive vontade de ignorar meus medos, deletar meus traumas, tirar o salto e esquecer das suposições, interrogações.. Jogar-me de cabeça, de uma vez e de todas as vezes que tivesse escolha. E enquanto ainda tivesse. De todos os sessenta, cento e vinte, trezentos e sessenta e cinco dias que eu aceitei e disse sim a toda essa história. E faria tudo de novo.
Desculpa te falar, mas eu me envolvi. Eu tive vontade de te abraçar e não soltar mais. Onde nossos encaixes e simetrias perfeitas foram feitas para nunca desencaixar. Eu me encaixo direitinho ali no que parece ser seu dossiê. Não é culpa minha sabe, só aceitei e aconteceu assim, naturalmente. Mas digo que sim, eu tive vontade de cantar uma canção das minhas preferidas no teu ouvido, mesmo que minha voz não seja das melhores. E sorrir mansinho quando percebo que você tenta disfarçar e não me deixar saber que aquela é sua música preferida. E admitir que toda bonita história tem uma trilha sonora que guia cada passo, cada escolha. E essa poderia ser a nossa. E no fim do refrão, vou te agradecer. Pelo quanto você chegou na hora exata e admitir que você é especial. E no que depender da tua linda forma de sonhar, teu futuro será lindo. Que eu consigo ver um milhão de realizações grandiosas pra você. E pensar em tudo isso me faz um bem danado, sabe. Aqui dentro.
E eu poderia encerrar aqui e dizer que essa foi mais uma história linda.
Mas não farei.
Nada disso eu fiz.
E nem proferi, sabe.. Em voz alta.
Eu queria ter te desejado boa noite e dorme bem, queria ter falado outros dicionários de palavras que na hora faziam sentido pra mim. Queria ter sido franca e direta, mesmo que perdesse todo o encanto de ir mansinho. Eu respeitei teu tempo e teu espaço. Tão importante quanto respeitar o que se sente, é respeitar os limites do que o outro se permite sentir.
Me perdoa, ta? Dos silêncios que eu não soube lidar. Das infinitas possibilidades que eu não cogitei, da clareza das palavras que eu não soube interpretar. Eu não consegui te fazer ficar. Deixei passar. Sabe quando você se vê diante do que sempre quis, mas queria tanto.. Que não soube cuidar.E acabei te frustrando no meio do caminho. É que eu sou um furacão, você calmaria. Eu deveria saber disso. Existem algumas coisas que fogem nosso controle e talvez essa seja uma delas. Aproveitei o embalo do teu silêncio, agradeci pelo que deixou em mim. E parti.
Deixei pra trás minhas vontades, meus desejos. Deixei meus sonhos, até aqueles que projetei em ti. Deixei de ouvir uma voz lá dentro que sussurrava, agora tão fracamente, que tudo que eu queria estava ali, disposto à minha frente. Mas que era inútil persistir, querer só por si.
Levantei pela madrugada e fui arrumando a mala sem fazer barulho, sem incomodar teu sono leve. Coloquei minhas peças de lembranças, coloquei algumas bolsas de memórias e frascos de sorrisos. Os meus melhores. Eu evitei fechar esse lacre, tentei postergar até onde pudesse fazer. Mas não tive saída.. Não foi escolha minha. Na verdade nada depende exclusivamente da gente: Podemos oferecer pro outro nosso mundo e torcer para que ele queira ficar se a gente se encantar pelo dele também.
Mas eu tive que calar.
Daí então eu escrevi.