28.1.15

Do que eu não fiz.


Eu tive vontade de te colocar no colo e deixar minhas unhas passearem pelos teus cabelos enquanto perguntava sobre como foi teu dia, tua semana. Eu tive vontade de te chamar pra ver o pôr do sol, sentar na areia e deixar você escolher o país de destino das próximas férias. Olha, eu tive vontade de ignorar meus medos, deletar meus traumas, tirar o salto e esquecer das suposições, interrogações.. Jogar-me de cabeça, de uma vez e de todas as vezes que tivesse escolha. E enquanto ainda tivesse. De todos os sessenta, cento e vinte, trezentos e sessenta e cinco dias que eu aceitei e disse sim a toda essa história. E faria tudo de novo.

Desculpa te falar, mas eu me envolvi. Eu tive vontade de te abraçar e não soltar mais. Onde nossos encaixes e simetrias perfeitas foram feitas para nunca desencaixar. Eu me encaixo direitinho ali no que parece ser seu dossiê. Não é culpa minha sabe, só aceitei e aconteceu assim, naturalmente. Mas digo que sim, eu tive vontade de cantar uma canção das minhas preferidas no teu ouvido, mesmo que minha voz não seja das melhores. E sorrir mansinho quando percebo que você tenta disfarçar e não me deixar saber que aquela é sua música preferida. E admitir que toda bonita história tem uma trilha sonora que guia cada passo, cada escolha. E essa poderia ser a nossa. E no fim do refrão, vou te agradecer. Pelo quanto você chegou na hora exata e admitir que você é especial. E no que depender da tua linda forma de sonhar, teu futuro será lindo. Que eu consigo ver um milhão de realizações grandiosas pra você. E pensar em tudo isso me faz um bem danado, sabe. Aqui dentro.

E eu poderia encerrar aqui e dizer que essa foi mais uma história linda.

Mas não farei.
Nada disso eu fiz.
E nem proferi, sabe.. Em voz alta.

Eu queria ter te desejado boa noite e dorme bem, queria ter falado outros dicionários de palavras que na hora faziam sentido pra mim. Queria ter sido franca e direta, mesmo que perdesse todo o encanto de ir mansinho. Eu respeitei teu tempo e teu espaço. Tão importante quanto respeitar o que se sente, é respeitar os limites do que o outro se permite sentir.

Me perdoa, ta? Dos silêncios que eu não soube lidar. Das infinitas possibilidades que eu não cogitei, da clareza das palavras que eu não soube interpretar. Eu não consegui te fazer ficar. Deixei passar. Sabe quando você se vê diante do que sempre quis, mas queria tanto.. Que não soube cuidar.E acabei te frustrando no meio do caminho. É que eu sou um furacão, você calmaria. Eu deveria saber disso. Existem algumas coisas que fogem nosso controle e talvez essa seja uma delas. Aproveitei o embalo do teu silêncio, agradeci pelo que deixou em mim. E parti.

Deixei pra trás minhas vontades, meus desejos. Deixei meus sonhos, até aqueles que projetei em ti. Deixei de ouvir uma voz lá dentro que sussurrava, agora tão fracamente, que tudo que eu queria estava ali, disposto à minha frente. Mas que era inútil persistir, querer só por si.

Levantei pela madrugada e fui arrumando a mala sem fazer barulho, sem incomodar teu sono leve. Coloquei minhas peças de lembranças, coloquei algumas bolsas de memórias e frascos de sorrisos. Os meus melhores. Eu evitei fechar esse lacre, tentei postergar até onde pudesse fazer. Mas não tive saída.. Não foi escolha minha. Na verdade nada depende exclusivamente da gente: Podemos oferecer pro outro nosso mundo e torcer para que ele queira ficar se a gente se encantar pelo dele também.

Mas eu tive que calar. 
Daí então eu escrevi. 

Um ano novo, de novo.


Tive uma sorte danada de nascer nos primeiros meses do ano. No segundo, por diretamente dizer.  E naturalmente, dezembro chega com as malas de lembranças e memórias não apenas do ano que pede passagem e recheados daquele sentimento de “o-que-eu-fiz-o/que-eu-queria-fazer” que fica meio arrastado até Janeiro e se posterga até a data que eu apago velinhas, se assim eu permitir. Acredito fielmente naqueles ciclos que se iniciam, que há toda uma energia em volta disso, mesmo que a cada dia seja também um novo ciclo, ciclos maiores como anuais e pessoais. Sustendo aquele vinculo emocional com tudo que já passou pela minha vida, que talvez até maléfico seja, quando não permito aquilo que deve ir, ir embora de vez. E abrir espaço para novas coisas chegarem. Vanessa Alessandra. A verdade é que fim de ano a sensibilidade se acomoda, o pensamento pega um foguete pra lua e só volta quando tudo está fixo na terra novamente: a cabeça, os pés, o coração. Infelizmente demora. Aproveito esse ócio de frente para o notbook e me recolho nos meus cômodos internos - o sofá da minha consciência, a sala de estar dos meus arrependimentos e a cozinha de novos planos e projetos – embarco em um punhado de sonhos que eu alimento aqui dentro e estabeleço num papel aquilo que deve ser feito, que deve ser evitado, que vou a todo custo lutar para fazer.

 Só que existe um nó imenso no meio do caminho. São pequenos nós que a cada dia fortaleço-me para que sejam desfeitos, seja fisicamente ou emocionalmente. São pequenas barreiras invisíveis, mas ainda capazes de impedir a passagem no caminho dessas metas, sonhos e lutas. Estou perfeitamente certa de que tais nós existem pra cada um de nós, mas que cada um reage a eles de formas diferentes, sob situações e contextos também diferentes. Alguns com mais sorte, outros com menos.. Alguns com uma ajudinha externa, outros com natural dom de resiliência. Mas a forma como lidamos com eles fala muito sobre nós. E assim uso deles pra me conhecer mais e mais.. Apesar de desconfiar que nunca saberei ao certo quem realmente sou. Quem fui ontem, não sou mais.. Amanhã.. Vai saber?

2014 foi um ano incrível, como todos os anteriores foram. Desde pequena entendi o significado do yin yang, de todas essas filosofias que te ajudam a transformar um bocado das escolhas diretas e indiretas que fazemos na vida, em separar seus erros e aprendizados. Eles são intrínsecos, basta saber enxergar bem. Há sempre um bom no mau, um bem no mal.

Não me refiro a esse ano que se vai como um ano de milhões de maravilhas. As poucas conquistas são contadas nos dedos. Válido ressaltar o privilégio da qualidade à quantidade. Plantei as sementes do que irei colher no ano que chegará. Posso perfeitamente resumir 2014 a uma sequência de tropeços. Mas que sem eles, eu jamais seria a mulher que agora sou. Engraçado dizer, hoje sorri bobamente de tudo que aconteceu.. Agradecendo, só agradecendo. Vi-me sozinha, completamente sozinha e pela primeira vez não tive medo de vivenciar isso. Daqui pra frente será assim, na verdade sempre foi.. O afago da família e a proteção dos que me amam e evitam meu sofrimento a todo custo, enquanto puderem fazer.. Estiveram longe. Estão longe. Enviam-me amor a toda medida, oferecem apoio e palavras de carinho quando necessário. Mas ainda sim, sozinha. Sem dúvidas, meu primeiro desafio.

O segundo desafio foi uma batalha interna que eu travei contra mim mesma. Meu gênio difícil, minhas dúvidas, meus receios, meus medos. Confiança em si mesmo, sobretudo. Falhamos quando não sabemos da nossa capacidade de construir palácios, basta apenas confiar na capacidade de fazê-lo. E seguidamente, fazer! Não adianta esperar cair do céu o que se sabe que de lá apenas vem Chuva. Então o desafio começou aqui dentro, em dialogar com a dualidade presente nessa consciência. Não me sai muito bem, mas a cada dia essa relação interna torna-se menos complicada. Desse casamento vêm frutos, brinco dizer. E depois que você descobre os passos corretos da receita do bolo, o resultado tende a melhorar. E que então, você só precisa de tempo. Só tempo. Persisto na espera dele.

 Um terceiro desafio e talvez último, mas não menos importante: O Mundo aqui fora. É preciso um pouco de olhar critico e sem dúvidas, mais resiliência, aliado a um punhado de maturidade pra entender a complexidade de tudo que está a nossa volta. As pessoas, as histórias, os cenários, os contextos.. Eu costumo dizer que sei lidar com o que há aqui dentro de mim, ou pelo menos posso tentar e tentar novamente quantas vezes puder. A partir do momento que conheço meus limites e minhas possibilidades, sei com o que lidar e como lidar. É de mim que falo, é de mim que conheço.. Lá fora tudo muda. São pessoas e pessoas diferentes, são diversidades e complexidades que quase sempre conflitantes, terás muita sorte em saber reagir bem a toda essa mistura de culturas, costumes, pensamentos e ações. E que quase nunca fechar-se a uma bolha fará da tua caminhada menos penosa. Quem evita errar, não erra. Mas também não vive. E que graça tem passar por esse mundo sem provar de gostos, de cores, de sabores, de culturas e conhecer as diferenças? É dessa maravilha que me alimento, da linha tênue entre o que sou e do conforto de ser quem sou e do resto do mundo, diferente de mim, mas que sem dúvidas faz-me aprender infinitamente mais.. E que sem todos esses aprendizados, meu ano não seria válido, viver não seria tão saboroso, errar não seria viciante, tropeçar não me instigaria a levantar, a conquista não seria prazerosa, marcante e não estaria entre minhas cinco melhores conquistas da vida, ou quantas eu optar por ser..

E que uma das maravilhas que 2014 me proporcionou é que através desses grandes três desafios, não teria um baita orgulho de olhar no espelho e saber que quem está lá do outro lado sorrindo pra mim mesma, sorri convicta de que as vitórias foram apenas consequências dos meus esforços e que os tropeços foram tão importantes quanto reconhecer essas  vitórias. Construir a minha história nada mais é que entender que o tempo é o mediador de tudo. Há a necessidade de fazer as pazes com ele, fazer a minha parte através das minhas escolhas e aproveitar a paisagem. Um passo de cada vez, sem pressa.

27.1.15

Tão perdida quanto essas palavras


E então eu me dei conta que tudo que eu desejei, tinha em mãos. Cuidado com o que você pede... Você pode um dia conquistar. Mas virei pro lado e perguntei pro primeiro que passou na minha frente. “E agora, eu faço o quê com tudo isso?”

Não obtive resposta.
Só com o tempo ela veio.

Acho que eu ando muito cansada. Perdida na dúvida entre saber se amanhã começa um novo dia ou um novo dia que começa. Ando desejando tanto que tudo passe depressa por algo que eu não sei o quê. Tenho aprendido mais. Tenho escutado mais. Sim, estou feliz. Sim, estou realizada. Sim, aquele sorriso continua aqui. Às vezes dá tudo errado, às vezes tudo desaba de uma vez. Mas também há aquelas vezes que meu coração dá pulos e palpitações, ai eu abro uma cerveja pra comemorar, mesmo que seja algo que eu não sei se é vitória minha ou do universo que trouxe isso pra mim. 

Tropeços, algumas quedas, uma porção delas no mesmo lugar. Mas é legal essa coisa de ir aprendendo com calma. Você se perdoa e deixa tudo fluir. Exigindo a constante humildade para reconhecer que não sou tão especial quanto penso. E que nem sempre um grande passo vai me tirar de um pequeno lugar. Tenho rezado bastante e agradecido por todas essas maravilhas que tem acontecido na minha vida. Tenho pedido perdão também pela ingratidão de não estar completamente satisfeita. Às vezes me pego pedindo mais que agradecendo. E algumas delas, eu nem mesma sei o quê. 

“Vai vida, surpreenda-me”.

Sabe aquela máxima de que quando você tem tudo que deseja, ainda vai faltar alguma coisa que você não sabe o quê? Eu acho que isso tem muito a ver com ingratidão.  Mas eu tenho aprendido bastante. Estabelecer contratos com o tempo, saber a devida função de cada pessoa ou acontecimento na minha vida me faz imaginar tudo como um filme em que eu sou a única telespectadora. 

Sinto saudades de quem um dia já fui. É verdade. E me dei conta que às vezes nem me reconheço mais. Eu já admirei bastante aquela moça que um dia ocupou aqui esse espaço e assinou com meu mesmo nome. Mas hoje em dia não sei por onde ela anda. Olha, cuidado com a vontade excessiva de autoconhecimento. Um dia você pode se conhecer tanto.. Que vai se desconhecer. Foi assim que a vida me colocou numa diferente perspectiva. O legal disso é a capacidade de entender que num sorteio de inúmeras atitudes, a gente nem fez assim tanta diferença. Nossas escolhas de agora serão substituídas por aquelas de amanhã bem cedo. E se eu não levantar quando chama o despertador, ninguém mais vai me avisar que o dia está lindo lá fora.

Amanhã é tudo novamente, acordar e tomar leite gelado com toddy e comer pão com requeijão. Preparar o café da manhã, o lanche da manhã e sair pra vida. Distrair a mente dos meus precipícios tem sido um dever de casa fora dela. Sintonizo aquela música que faz sacudir minha alma e fico observando as pessoas na rua. Já contei por aqui que adoro escrever uma historia pra elas? Outro dia fiz uma bem bonitinha. Mas o ponto da descida do ônibus chegou e não deu tempo de fazer um final feliz.  Talvez isso tenha acontecido com bastante frequência. Eu inicio uma bonita história pro meu dia, mas nunca consigo um final legal. Daqueles que as pessoas aplaudem de pé. Talvez a peça do quebra-cabeças veio defeituosa. Talvez eu tenha deixado ela se perder das demais. Ou vai ver ela está por aqui por perto de mim. E eu não consigo enxergar o quão perto ela esteja. E eu nunca perco essa paixão por metáforas.

Esses dias antes de dormir me peguei lembrando que faz um ano que eu tomei a decisão de estar sozinha na minha companhia. Nem tô falando de estar solteira ou em um relacionamento. Aliás, é um relacionamento com a minha própria voz em casa, com uma cama de solteiro inteira pra mim, com uma louça que eu mesma sujo da macarronada que eu aprendi a fazer. Lembra que eu disse pra tomar cuidado com o que você deseja? Isso entra na lista. Depois de uma grande decepção você deseja arduamente estar em paz com seu silêncio. Mas ai a ferida se curou, o tempo passou e eu senti falta de algo que aconteceu e eu nem reconheço mais. Lembrei das pequenas escolhas que fazemos, talvez até inconsciente, que falam bastante dos próximos passos que daremos. E que não dá pra ficar à espera que coisas incríveis aconteçam, sem que você mesma aconteça. Não dá pra pegar uma caneta mágica e escrever num papel colorido e esperar que as palavras pulem do papel pra minha realidade lá fora. 

Então eu agradeci novamente. O que eu faço todos os dias, frutos das minhas batalhas, conseqüência das minhas conquistas, principais motivos da minha realização interior. Agradeci também minha própria companhia, os filmes no sábado à noite e a única taça de vinho que eu coloco em cima da mesa. O bom de um longo tempo sozinha é que você começa a dar valor a companhia de quem seja. E guarda um lugar especial pra quem deseja a sua. 

Eu sei que aconteceu e eu nem reconheço mais. Mas eu sinto uma saudade absurda de tudo isso que me espera no futuro. Confesso que fecho os olhos e peço, lá no fundo, pra não demorar. E ao fim desse texto, conclui que é isso que não me permite terminar minhas histórias. Nem falar sobre como eu termino meus dias.

Existe um final não escrito, pronto pra ser redigido. Quero dizer que hoje eu desejo que ele comece a ser escrito. E eu nem quero tomar cuidado com isso, por que eu também desejo que ele comece agora.

26.1.15

Calma


Um dia isso tudo vai ser acalmar. Não costumo prever o futuro, mas sei exatamente o que irá acontecer: Vamos nos falar todos os dias, e dizer que nos importamos sempre. Quando eu sentir saudades – no meio do meu dia atribulado – olharei para dentro de mim, acredite, você está aqui, como ninguém nunca antes esteve. Irei frequentar os lugares comuns, tomar três chopes e brindar em sua homenagem. Eu brindo daqui. Você daí.

Qualquer dia brindaremos juntos. Vamos rir daquelas bobeiras que insistem em apertar nossos corações e que nos fazem perceber o quanto somos importantes um para o outro. Eu vou te contar todos os meus segredos, olhar nos seus olhos e me sentir segura. Vamos entrelaçar nossas almas mais uma vez, cada vez mais. Vamos cumprir o que já estava traçado antes mesmo de nós dois respirarmos. Fomos/Somos feitos um para outro.

Um dia isso tudo vai se acalmar. Tudo vai pegar fogo. Vai ter o dia a dia. O café, o almoço, o jantar e os filhos. Vai ter o silêncio, mas saberemos que o outro estará ali, a poucos metros de distância. Ao alcance da alma. 

Terá calma. Alívio. Amor. Respeito. Fidelidade. Companheirismo. Felicidade. Paz. Paixão. Desejo. União. 

25.1.15

Eu sinto muito, mas eu sinto tudo


O que eu senti aquela noite não foi tristeza. Foi fácil chamar de TPM, afinal, a ebulição dos meus hormônios diante do novo talvez tenha contribuído. Aquela hora em que vesti o pijama e parei por dois segundos pra refletir no espaço e tempo que talvez já fosse segunda-feira foi o estouro da bolha de uma felicidade impossível. Eu olhei para você, eu vi a minha mala, eu fechei os olhos e não esperava por lágrimas por mais que um soco sem formato ou cor tenha me atingido tão detalhadamente no estômago que não parei mais. Não teve soluços ou desabafos, declarações. Apenas um não saber intruso, a invasão do desconhecido assaltando a leveza e fazendo pesar a mão no futuro. As lágrimas rolando maçãs do rosto abaixo, inesperadas, sem pausa, nada tímidas. Até hoje não compreendo qual o botão que deu defeito e paramos com os carinhos sutis para pressionar com força e desespero um botão que fizesse tudo continuar a funcionar. O que eu não sabia é que se a gente deixa no automático certos sentimentos operam melhor, com cautela alguns acertos são possíveis.

Agora todos os dias eu acordo, tomo gelado meu leite com Toddy, como pão com requeijão e engulo o remédio sem qualquer resquício de culpa ou medo. Podia existir aqui uma vergonha em falar nesse assunto, certo receio. Porém, se é pelo bem geral e para manter minhas emoções em suas coleiras feitas de algodão em tons pasteis, que eu ingira esse comprimidinho branco que consegue colocar em compasso mente, coração e a ordem dos meus dias com dignidade. O caos da impulsividade, aquele precipício cheio de borboletas coloridas chamando para o além, uma paisagem de vida ativa logo lá embaixo, as nuvens todas macias lá em cima: é bacana se sentir flutuando vez que outra, contudo, que carma descer pra terra mais tarde. Quanto susto tem nesses momentos em que a gente se obriga a cair na real; é de voltar com os joelhos esfolados, cortes hemorrágicos pelo corpo todo, a dor latente de mergulhar, descer rampas, subir nas árvores do bem-querer alheio sem calcular o tamanho das quedas. Eu então me medito pra que seja possível colocar as emoções no lugar , em fila indiana, por tamanho e grau de importância. Longe de ser algo simples, mas talvez a única maneira de equilibrar a gangorra sem ter medo de ficar por baixo.

É feito peito de criança mesmo com chiado, é como aqueles pequeninos que não querem nunca saber da hora de dormir ou quando entram no banho jamais querem sair: eu sinto o cansaço do dia colidir com a minha disposição por aventuras, a excitação do encontro misturada à ansiedade das expectativas, as mãos tremendo, a adrenalina amassando os documentos, respira fundo, calma, respira, Vanessa, isso. A intensidade disso que a gente ainda nem sabe, a fome por respostas claras, o atropelamento das etapas decisivas. O obscuro da sua caverna, a frustração pensante dos silêncios, uma saudade órfã da sua voz. A pena dos pedintes em frente à igreja Batista, as angústias do barraco pelo telefone na mesa ao lado no self service, o lado ruim dos outros feito fratura exposta cheia de contaminação. Os excessos da noite passada, as veias entupidas de carboidratos nada bem vindos, o telefone que não vibra nunca atrás de notícias. A pequena morte do orgasmo, o susto da despedida atrapalhada, a dor e a delícia de se estar em aeroportos.

Eu sinto muito, mas eu sinto tudo, tudo. E não é nada fácil, muito menos simples. É uma luta diária pra não infartar com uma simples conversa, é o choro de duas horas por uma resposta atravessada, é a felicidade de três noites por algo dito anteontem. Uma fé imensa, uma ingenuidade talvez frívola, aquela mesma sensibilidade que você tanto admira vestida de vilã para o Halloween. De vez em quando. Umas pouquíssimas vezes por ano. Apenas na presença de quem é nobre o suficiente pra não se assustar com trovejadas e saiba relevar tropeços sem deixar escapar a raridade do passarinho azul em mãos.

24.1.15

Procura-se: papai ou similar


"Eu tava pensando esses dias, sabe. A gente, talvez, procure o nosso pai nos caras em quem a gente se relaciona. Tipo querer suprir alguma falha na infância, reviver a inocência de um passado bom, entende? Nada de querer ser tratada como filha, ou sei lá, proteção. Mas aquelas características do homem base, do modelo que a gente teve desde cedo. Se sentir em casa, saca?" A minha amiga havia perdido o pai há poucos meses. Pude acompanhar de perto o que deve ser uma das mais doloridas sensações que a gente venha a experimentar nessa vida: a fragilidade que é estar bem até não se sabe quando. "Meu pai é o cara mais foda que já existiu", ela costuma dizer. Piadista, e revolucionário, parecidíssimo com o exemplar paterno daqui de casa. Nunca me arrisquei a discordar. Apenas dissertei num táxi esses tempos sobre como rola uma paixão toda vez que o rapaz da vez tem características parecidas com nossos genitores e uma repulsa enorme quando não.

Normal que eu me frustre caso o rapaz não beba cerveja, deixe a barba por fazer de vez em quando, leve a vida tão a sério que torne o final de semana um porre. Compreensível que os certinhos por aí me causem sono e urticária. Justificada a minha paixão pelos rebeldes com causa, pelos apaixonados por trabalho, por todos que tenham um quê de malandragem que papai nunca perdeu. Natural que ela busque em cada paixão que pinta pelas esquinas alguém à altura, que entenda de vinhos e queijos, que teça teorias bem elaboradas sobre política, saiba ver na singularidade a honra de não pertencer ao rebanho.  O meu primeiro herói brincava de Barbie e quando fingia que ia me dar uma (merecida) surra, me presenteava com um cachorrinho de pelúcia, para o desespero da minha mãe. Imaginem.

Meu pai nunca ligou muito para boas roupas, cores que combinam, marcas e cortes. Usa o que é confortável, se apega a algumas peças de décadas atrás, tá pouco ligando para a opinião alheia sobre seu estilo. Gosta de carros, entende de mecânica, dirige bem como poucos homens me fizeram sentir segura no banco do carona até hoje. Ama fazer feira, detesta ir a shoppings. Sabe muito de rock, respeita a música pop, conhece e discute música comigo como poucos conseguem. Assiste futebol, me fez palmeirense desde criancinha, não aceitará corintianos facilmente neste recinto. É idealista e escrachado, briga e depois de dez minutos esquece, curte horrores uma praia e sabe apreciar o campo também. Teve a sorte de conhecer minha mãe, tão oposta em tantas características e igualmente fascinante. Complementares, não se desgrudaram por 25 anos - algo que respeito, afinal, nem todos os dias são de rosas, mas esses com certeza existem em maior quantidade que os espinhosos. 

E então eu tenho buscado nos caras por aí algum que beba mas não seja alcoólatra, se vista como bem entende e não ligue pra dicas de moda ou preços exorbitantes, ame uma economia e pense em dinheiro a longo prazo, trabalhe pra caramba e ame o que faça, mas saiba aproveitar as preciosidades de sexta à noite, sábado e domingo, debata bandas, artistas e músicas, vá a jogos e não ignore meus conhecimentos futebolísticos. Se tiver barba por fazer, que bom. For alto e moreno, melhor ainda. Agora, caso o rapaz possua a bondade e o cuidado, o humor ácido e a firmeza de papai, aí é bingo, aí é loteria ganha e show de encerramento.

Com Ozzy de fundo. Ou Bowie. Talvez Stones. Churrasco na mesa, cerveja gelada, domingo e o vinte e dois caras atrás da bola. Rola qualquer dia desses aí. Sem aviso prévio ou data marcada porque é assim mesmo que meu pai gosta das coisas: repentinas.

23.1.15

To com saudade dela


Antes de mais nada gostaria de dizer que este texto a baixo não é meu, é o desabafo de um homem apaixonado, li isso em uma pagina do facebook e confesso que me comoveu e muito, minha historia é diferente da dele, mas posso dizer que muitos dos meus pensamentos e sentimentos batem com os dele. Acho que foi por isso que me comovi tanto ao ponto de chorar lendo esse desabafo, e nele eu percebi um amor verdadeiro!

To com saudade dela

A verdade é que tá foda. Ontem descobri que o amor da minha vida encontrou o amor da vida dela. Quando vieram os papos de aliança dourada, eu quis desconversar, mas não teve jeito, meus amigos disseram alto: ‘Esquece de vez. Ela vai casar’.

Palavra não é revólver, mas mata tanto quanto. Não sejamos hipócritas, o sorriso de quem a gente ama também nos deixa destruídos no canto. Basta que não tenha sido ao nosso lado que os lábios, felizes, se abriram. E não entro em exageros de depressão e o caralho que for. Falo de perder o chão, as estribeiras, entender o que é dor.

Depois da notícia busquei meu altar e sequei duas garrafas de whisky. Não encontrei alívio algum. Escutei dez ou cem músicas de fossa. Nenhuma pareceu dizer o que eu queria dizer, o que eu queria escrever, o que meu coração precisava gritar.

Se eu começar a falar de sexo, aí é que a coisa fica feia. Ela transformou um menino em homem. Me dizia o que queria e como queria. Me ensinou o que a língua faz enquanto as mãos podem estar na nuca ou dando tapas de amor. Ela é dessas que não tem pudor. Faz do sexo o templo sagrado que deve ser. Seu limite é o gemido alto, o entorno é só um detalhe. De fantasias mil, eu já tive ao meu lado a mulher mais safada e independente que já se viu; e se verá.

Foi tanta coisa ao lado dela que minha cabeça me trai: começo a achar impossível alguém preencher todo o vão que ficou na partida. A gente já jogou bola na praia; eu – sem ciúme – já incentivei ela a diminuir a saia. A gente já tomou cerveja no gargalo; também fomos juntos conhecer o Brasil de carro. Ela nunca fez teatro, mas numa das nossas viagens encenou que morreu. Nunca vi aquela filha da puta rir tanto como quando eu gritei: ‘Pelo amor de deus, amor: acorda! Puta que o pariu, acorda!’

Falo por mim: ela é dessas que você dá corda à partir de um só sorriso. Joga o cabelo pro lado e te pede o isqueiro. Quando você menos percebe, daria o mundo inteiro para mais cinco minutos ouvindo cada palavra que sai daquela boca. Ainda não sei se aquela área de fumantes fez parte do melhor ou o pior dia da minha vida. Ainda não sei o que vale a pena nessa vida. Porque nos apresentar pessoas tão distintas e marcantes se logo depois vai nos tirar à força? Talvez eu ainda precise entender que felicidade é o beijo que se dá no presente, não planos de futurismos baratos.

Todos os dias eu ainda lembro que ela é do tipo que inspira só por respirar. Cujas palavras formavam frases que me queimavam o juízo. Dessas que têm no cabelo o cheiro que eu queria sentir ao deitar. A pele que eu queria sentir com a palma da alma quando acordasse. A voz, meu Deus, dessas que eu queria guardar e fazer música dentro de mim. Ela é assim: linda. E sobrava tanto que quando eu encostava nela, me sentia lindo também. E aqui falo de beleza que sai dos poros, não nas capas. Ela era justa. Podia gritar, podia chorar, podia implicar; mas eu morreria ao lado de uma justa. Só que não deu. Num desses dias esquisitos, sumimos. Ela foi pra lá. E eu vim parar aqui.

Desistir jamais


Estranho, inquietante ou questionador? Isso essa é a descrição do meu dia ontem. De como ficou meu coração logo cedo. Acordei com um sol lindo mas algumas nuvens apareceram, e um dia que seria como qualquer outro ensolarado, nasceram tantas dúvidas. Nasceram angústias, medos, aflições e certezas. Mas como pode? Pode sim, nada é de propósito. Deus não dá a NINGUÉM uma carga mais pesada que a que podemos carregar, isso é fato. Mas ele surpreende, e como surpreende e assusta! 

Como água pode virar vinho e como tranquilidade vira dor? Pois é como? Por que? O que fizemos de errado é o que nós perguntamos nessas horas, e somente nessas horas conseguimos para pra tentar refletir e então enxergamos nossos erros. 

São somente testes e amostras de que somos pessoas absolutamente fortes, até porque esses “testes” só são mandados pra pessoas que tem uma aura iluminada e a capacidade de absorver e transformar todo esse medo em força, em energia que ENFRENTA. QUE ELIMINA E ILUMINA TUDO QUE FOR DESTRUTIVO, QUE CARREGA com a força da fé, com a energia positiva, com a crença de que algo muito maior faz mais sentido, como o amor de um filho, o companheirismo do marido e o aconchego cheio de amor dos amigos façam que tudo torne ao menos o peso mais leve.

Esse fardo vai ter que ser carregado mas tenho CERTEZA sempre terei alguém que estará ao meu lado para me ajudar, EM TODOS OS MOMENTOS e na hora em que meu fardo mais pesar eu irei escutar o que diz o meu coração.